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Cidades Turísticas, por Professor Abílio Vilaça

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

Terão as cidades de Braga, Coimbra, Viseu, Lamego, Guarda, Évora e Sines capacidade para ambicionar o estatuto de Cidade Turística?
Muito se tem falado nos últimos anos em turismo e no seu potencial. Os governos nacionais e os municipais têm vindo a ensaiar medidas tendo em vista uma marcação do território neste importante setor económico. Têm-se construído infra-estruturas, realizam-se iniciativas de animação sociocultural, atraem-se investimentos hoteleiros sem contudo existir uma linha de orientação estratégica.
Existe uma interconexão concetual entre Turismo, Cidade e Cultura que tem de ser assumida por quem quer fazer da cidade o eixo motor de uma nova oferta de turismo e por essa via contribuir para uma nova frente de desenvolvimento económico e social.
A turistificarão da cidade passa naturalmente pela disponibilidade de produto turístico no mercado, significando tal, a existência de uma oferta e procura turística. As cidades referidas não possuem uma oferta turística e também não se conhece uma procura turística para aquelas cidades. É necessário organizar a oferta turística, de produto turístico cultural urbano, para que a dimensão da cidade cultural possa beneficiar dos efeitos económicos do turismo. Existe património cultural e histórico edificado, porém não se conhece no mercado uma oferta organizada em produto turístico cultural urbano.
A turistificação da cultura igualmente passa pela mesma dificuldade de não existir nas cidades referidas uma oferta turística de produto turístico cultural urbano. Não se conhece uma procura para aquelas cidades no mercado turístico com as suas características e identidade.
Está por fazer o Planeamento Turístico Urbano que funcionaria como motor de uma dinâmica tendo em vista preparar a cidade para a frente de uma oferta de Turismo Urbano, capaz de concorrer com a mesma oferta de outras cidades. Está também por fazer o Planeamento e gestão do Turismo sustentável nos Centros Históricos como local de património cultural e local de lazer. Só pela dinamização destas duas dimensões: Urbanismo e Planeamento Urbano por um lado; e o Planeamento e Gestão do Turismo Sustentável no Centro Histórico por outro; se poderá começar a compreender a vontade dos atores nesse objetivo e compromisso.
O objetivo de construir a Cidade Turística requer uma opção política determinada e muito clara, sem tibiezas nem distracções. Perdeu-se já muito tempo em experimentações e frouxas ambições. Passada a euforia do boom turístico inicial é urgente começar a trabalhar por uma ambição para aquelas cidades. O tempo é curto e existem outras cidades em Portugal e no mundo que já estão há muito a trabalhar e bem.
Recorda-se que, durante toda a Idade Média apenas nove conjuntos urbanos em Portugal, tinham o estatuto de cidade. Neste conjunto incluíam-se as cidades de Braga, Porto, Viseu, Lamego, Guarda, Coimbra, Lisboa, Évora e Sines. Na época, tal estatuto só era atribuído às sedes de Diocese, tendo como marca a sua Catedral. Com a laicização e centralização do poder, e fatores de natureza demográfica, económica, geoestratégica e a criação de novos bispados faz-nos chegar a 1974 com 43 cidades. Hoje o número de cidades em Portugal ultrapassa já as 150.
Nas primeiras nove cidades Portuguesas, Lisboa e Porto já compreenderam a importância do turismo e têm sabido dinamizar, a diferentes níveis, esse objetivo estratégico. As cidades de Lisboa e Porto, têm produto turístico, vende-se internacionalmente e começa a compreender-se a interconexão concetual entre Turismo, Cidade e Cultura.
As cidades de Braga, Coimbra, Viseu, Lamego, Guarda, Évora e Sines ainda não saíram do estado de letargia em que foram colocadas e irão ter muitas dificuldades para conseguir dar o salto qualitativo e estratégico que as poderá relançar na conquista de um estatuto de Cidade Turística.
As dinâmicas de turistificação da cidade e da cultura, requerem que o papel dos agentes privados e públicos, estejam em consonância com uma opção política assumida e determinada. As cidades anteriormente referidas, podem vir a assumir um estatuto de Cidade Turística, mas para tal têm de ser encaradas como um espaço cultural, de turismo e de lazer. Falta a interconexão concetual entre Turismo, Cidade e Cultura que deve estar plasmado no ainda ausente Planeamento Turístico Urbano.
Urge questionar se as cidades de Braga, Coimbra, Viseu, Lamego, Guarda, Évora e Sines terão capacidade para ambicionar o estatuto de Cidade Turística?