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Os mitos do pleno emprego e os riscos de ciclos novos, por Professor Especialista Pedro Guerreiro

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

Portugal viveu demasiado tempo numa situação de desemprego elevado, quase crónico. Hoje vivemos numa situação de pleno emprego. Mas o que será que o futuro nos reserva? No momento em que muitos estudantes decidem que rumo tomar ao ingressar no Ensino Superior, não deixa de ser útil pensar no que estamos a fazer, enquanto país, empresas e pessoas, à preparação profissional de recursos humanos.
1. Para os estudantes
Ao tomar decisões de preparação de uma carreira é fundamental ter em linha de conta várias decisões. Em primeiro lugar, tentar perceber o seu próprio perfil. O que sabe fazer e o que tem potencial de desenvolvimento é sempre a base de uma decisão acertada de carreira. Mas a envolvente, o potencial de determinadas áreas de negócio a longo prazo é também um factor crítico para uma decisão bem sucedida. E aí, em Portugal, há áreas que são centrais e cuja procura de trabalhadores continua a crescer: as tecnologias de informação, o Marketing, as Finanças, o Turismo e a Restauração são apostas que - aparentemente - continuarão a ter procura a médio longo prazo. Há um outro ponto relevante a considerar: o pleno emprego de hoje não será, seguramente, uma constante ao longo do tempo. É por isso fundamental preparar um bom currículo, como uma espécie de seguro para as fases decrescentes dos ciclos económicos. Também é crucial trabalhar valências relacionais e cultivar o contacto com empresas e empregadores variados, respeitando sempre os compromissos. O futuro prepara-se hoje e não é só a economia que depende da qualidade dos recursos humanos: a estabilidade pessoal também está associada a um bom desempenho profissional ao longo do tempo.
2. Para as empresas
A maioria das empresas de hoje, com raríssimas excepções, não percebeu ainda que existe um novo problema em Portugal: a capacidade de reter talentos. Todos escrevem e falam sobre isso, mas apenas umas poucas grandes empresas sabem fazê-lo realmente bem. Há depois um conjunto de startups e tecnológicas que souberam entender que hoje em dia "it's not all about the money". As pequenas empresas continuam a recrutar exactamente da mesma forma que faziam há 20 anos, não partilham resultados, não libertam incentivos. É claro que isto é parcialmente compreensível: os empresários mais experientes presumem que depois de um ciclo em alta, vem sempre uma queda acentuada. E pretendem ganhar fôlego com isso. Mas o Estado não deixa. O Estado consome todos os recursos que as empresas poderiam investir no futuro. E se o presente passa por saber reter capital humano, o futuro necessariamente também.
3. Para o país
Em geral, Portugal tem sido pródigo em desenvolver uma enorme apatia perante os ciclos económicos e os novos cenários. Não nos discurso políticos, claro. Mas sempre nas atitudes. Um exemplo: os Hospitais precisam de profissionais da saúde, mas ninguém soube antever esse problema e agir sobre ele. Hoje em dia perdemos os melhores para fora do país e temos um sistema arcaico, sem condições de segurança para os contribuintes - que são pessoas, seres humanos, com histórias de vida em que o Estado não conta para devolver algo a quem o suporta. Outro exemplo? Portugal tem sabido conseguido manter o ciclo económico de forma razoavelmente estável à custa da iniciativa das empresas que exportam e do Turismo (que é basicamente uma outra forma de exportação / introdução de capital externo na economia). O que tem o Estado fomentado para acelerar e criar condições de retenção dos profissionais de Turismo, Hotelaria, ou da Indústria exportadora?
Em suma, os profissionais precisam de se qualificar, para poderem assegurar um futuro estável. Numa carreira que promete ser longa - dado que a idade de reforma continua a avançar - é aquilo que preparamos hoje que nos vai permitir crescer e ter mais estabilidade a médio e longo prazo. As empresas precisam de ser mais flexíveis, precisam de se adaptar mais rapidamente aos novos ambientes; a inteligência é precisamente a capacidade de responder bem a situações novas e a nossa economia precisa de muita inteligência. Os responsáveis políticos precisam de antever necessidades e, sobretudo, criar uma linha orientadora, que crie estabilidade e que permita perceber quais serão os vectores em torno dos quais todos - públicos, privados, entidades e pessoas - devem unir esforços.