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"Profissões do futuro" por Professor Doutor Victor Tavares

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

Em nenhuma época histórica foi fácil ser jovem. Naturalmente, o ambiente vivenciado (económico, político e social), as angústias sentidas, as perspetivas de vida e os desafios profissionais enfrentados, vão-se alterando de geração para geração.

Por exemplo, há 50 anos, os jovens como eu, viveram intensamente as tensões da guerra colonial em que Portugal se envolveu e da guerra do Vietname desencadeada pelos EUA, presenciaram a guerra fria, cresceram com a rádio e a televisão a serem os principais meios de comunicação de informações, e foram, de alguma forma, influenciados pelo movimento hippie e movimentos de contestação estudantil. 

Contudo, na altura, as suas perspetivas de empregabilidade, desde que obtivessem uma educação superior que os preparasse para os desafios da sociedade (que, na altura, passava pela obtenção de uma mera licenciatura), eram enormes. Na verdade, vivia-se um período de crescimento e prosperidade económica, e um jovem que tivesse uma formação universitária sabia que tinha várias alternativas de emprego à sua disposição, iria ter níveis de rendimento e de qualidade de vida superiores aos dos seus pais e avós, e que teria um emprego estável e para a vida, com progressão de carreira assegurada e outras regalias. Para tal, teria que dispor, sobretudo, de um conjunto de competências de saber-fazer.

Mas, para um jovem que, atualmente, tenha entre 18 e 28 anos, quais são os desafios e riscos que representa o contexto macroambiental com que se depara? Quais são as suas perspetivas de empregabilidade e em que condições de trabalho? Quais deverão ser as profissões em que deverão saber apostar, por revelaram melhores perspetivas de futuro? Que novas competências deverão adquirir e desenvolver, para serem competitivos no mercado de trabalho e criarem valor para as empresas ou organizações que fundarem ou para onde forem trabalhar?

Enquanto docente e investigador do ensino superior, tenho refletido e procurado encontrar respostas para estas questões cruciais sobre o futuro, que me têm vindo a ser insistentemente colocadas por alunos, empresários e responsáveis empresariais.

A este propósito, começo por referir que temos de começar por assumir (Estado, empresas, escolas, etc.) que o digital é o novo normal, que vivemos na designada Era Digital e que, necessariamente, temos de ter consciência das grandes forças que estão a moldar o nosso futuro: tecnologia, globalização (apesar das atuais guerras comerciais iniciadas por Trump e dos populismos antiglobalização), demografia, urbanização, guerras e alterações climatéricas.

Como consequência, estão a ocorrer mudanças significativas no trabalho, na natureza das empresas, da educação, no Estado, nos mercados financeiros e na economia, com o desenvolvimento de novos serviços, em que se vai consolidando o predomínio de plataformas digitais mundiais geridas por algoritmos poderosos numa lógica de ecossistema (e.g, Google, Apple, Facebook, Amazon, etc.). Os empregos, os modelos de negócios e as atividades produtivas estão a reconfigurar-se a uma velocidade estonteante e de forma irreversível, por força das novas tecnologias: inteligência artificial, robótica, drones, automóveis autónomos/sem condutor, impressão 3D, assistentes virtuais pessoais (e.g, Alexa, Siri, Cortana), realidade aumentada e virtual, etc. Um otimista dirá que há um admirável mundo novo que o futuro nos reserva (no sentido positivo, e não da distopia da famosa obra de Aldous Huxley)! Estas novas tecnologias tenderão a tornar a nossa vida mais fácil e confortável, possibilitarão a alavancagem do lado criativo das pessoas e estimularão o espírito empreendedor das pessoas.

Perante estes desenvolvimentos tecnológicos disruptivos, há inúmeros estudos que apontam no sentido de muitas das tarefas humanas, incluindo o trabalho intelectual, serem progressivamente realizadas por máquinas/robots até 2030. Contudo, tais estudos também salientam que a tecnologia irá eliminar profissões, mas não eliminará empregos. Efetivamente, as novas tecnologias tornarão possível realizar novas tarefas, ainda que mais complexas, sofisticadas, exigentes e criativas.

De salientar que existe um lado negativo em todo este progresso permitido pelas tecnologias do século XXI: as pessoas começam a constatar que os seus empregos se estão a tornar menos seguros, mais precários e pior remunerados, e que a probabilidade de os atuais jovens ganharem mais do que os seus pais é muito menor agora do que a dos jovens de há 50 anos! Como dar a volta a esta situação? A solução passará por envolver a adoção de políticas públicas de apoio consistente ao empreendedorismo e de redistribuição de rendimentos, e por uma reflexão de todos sobre o tipo de sociedade que pretendemos construir no futuro. E, necessária e logicamente, na formação dos jovens para as profissões com futuro.

De entre as possíveis profissões de futuro que já se encontram devidamente identificadas (ainda que muitas ainda não estejam a ser exercidas), destaco as seguintes: analista de Big Data, analista de qualidade da informação, arquiteto de realidade aumentada, arquiteto e engenheiro 3D, coaching, conselheiro de robôs, consultor de imagem, desenvolvedores de software, designer de dispositivos inteligentes, designer de personalidade automática, disseminadores de informação personalizada, especialista em e-commerce,; especialista em marketing pessoal online, especialista em networking social, especialista em simplicidade, especialista em experiência do cliente/sucesso do cliente, gerente de privacidade, gestor de avatares pedagógicos, gestor de comunidade, gestor de heranças, gestor de informação relevante e segura, gestor de inovação, gestor de talentos, pilotos, arquitetos e guias turísticos espaciais, professor online, profissional de marketing digital, representante de vendas internas/inside sales representative, e segurança da informação.

Em suma, as famílias e os jovens deverão saber apostar e investir, de forma proactiva e determinada, em profissões do futuro atrás identificadas (e noutras, naturalmente), através de uma formação sólida que lhe permita adquirir as novas capacidades e competências exigidas pelas mesmas, a saber: capacidades cognitivas (e.g, flexibilidade, criatividade, raciocínio lógico, resolução de problemas), competências-chave (e.g, aprendizagem e escuta ativa, expressão oral, compreensão de leitura, pensamento crítico, autocontrolo), competências sociais (trabalho em equipa, inteligência emocional, negociação, persuasão, tomada de decisão, resolução de problemas complexos), e competências de gestão (e.g, gestão de recursos financeiros e materiais, pessoas e tempo).

Em suma, tal como foi muito bem enfatizado por António Salcedo numa lúcida recente intervenção na Assembleia da República sobre o Ensino, os jovens em particular (porque são o futuro) terão de saber aprender a aprender, a serem intelectualmente autónomos, a pensar de forma criativa e criar valor para as organizações.