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"O paradoxo da mudança" por Professor Doutor José Oliveira

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

O governo anunciou, em fins do ano passado, a introdução para breve do projeto "Fatura sem papel". Tal, permitirá a desmaterialização da informação atualmente em suporte físico para outro de natureza digital, aumentando assim a eficiência da informação e reduzindo o consumo de um recurso importante, o papel.
Em 1865, o economista inglês William Stanley Jevons afirmava que à medida que as pessoas utilizavam um recurso em quantidades cada vez maiores aprenderiam também a utilizá-lo de forma mais eficiente. Poderíamos, então, pensar que isto levaria as pessoas a utilizar menos o recurso. O resultado é totalmente o oposto, quanto mais eficiente se torna um recurso mais barato fica, aumentando assim o seu consumo. Este fenómeno, ficou conhecido pelo paradoxo de Jevons.
110 anos volvidos, apareceu nos EUA o conceito do "Paperless Office". Um conceito de desmaterialização que em teoria levaria, num curto espaço de tempo, à desmaterialização da informação impressa em papel para um formato imaterial de natureza digital. Ora, tal como Jevons previra no século XIX, o consumo do papel aumentou, motivado por um maior acesso à tecnologia pelas massas, aliado à consequente diminuição do custo do mesmo.
Mais ainda, quatro décadas depois e em pleno séc. XXI, não só o consumo de papel se mantém, e em ligeira subida, como também a tecnologia de impressão está cada vez mais acessível. Acresce também, que desde a invenção da imprensa por Gutemberg, no séc. XV, o papel é uma das mais antigas "Commodities" utilizadas pelo homem, não sendo, imaginável mesmo pelos mais progressistas que algo que faz parte da convivência do ser humano há mais de 500 anos em pouco mais de quatro décadas reduza substancialmente a sua utilização.
Toda esta panóplia de mudanças aliada a alguma fantasia, leva-nos a ter de pensar profundamente de como gerir a utilização dos recursos de uma forma mais eficiente e equilibrada por todas as partes da equação a saber: o cidadão (entenda-se também como o contribuinte), a indústria e, por último, a tutela, de forma, a que seja possível traçar e alcançar objetivos úteis para a sociedade e para o planeta, e que não estejamos perante mais uma boa intenção, que tal como tantas outras não passarão de intentos.