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EDUCAÇÃO E SOFT SKILLS: FACES DA MESMA MOEDA, por Professora Doutora Elvira Vieira

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

A mobilidade social foi recentemente tema de uma publicação da OCDE que destaca, entre outros fatores, as condições que os mais jovens têm, em potencial, para poder ascender no "elevador social" e progredir para um estatuto social mais elevado. De acordo com este estudo, as oportunidades de ascensão são fortemente condicionadas pelo local onde os indivíduos nascem e pela base familiar, ou seja, nascer num país nórdico aumenta significativamente a possibilidade de obter rendimentos mais altos, a perspetiva de um trabalho melhor e de um nível educativo mais elevado, quando comparado com outros países europeus, sobretudo países do sul da Europa. No elevador social apenas serão necessárias 2 gerações para crianças que tenham nascido nestes países, passarem do nível mais baixo de rendimento para a média nacional, ao passo que nos restantes poderá demorar entre 4 a 6 gerações. Mais concretamente, nos países do sul da Europa, a mobilidade social é muito baixa em termos de educação e emprego, refletindo níveis mais baixos de investimento no setor educativo que permitam a eliminação de diferenças de oportunidades, tanto no acesso a níveis educativos mais elevados como na diminuição do abandono escolar. Uma população com níveis educativos mais baixos acaba por ter menos opções de vida, tornando-se mais vulnerável a situações de volatilidade, dificultando a sua ascensão social.
O Estado é um agente económico essencial no incremento da mobilidade social e como garante da igualdade de oportunidades, mas não se pode centralizar neste toda a responsabilidade pelo sucesso dos seus cidadãos. Tal como um Leviatã Hobbesiano, a força do grupo reflete a força de cada um dos indivíduos que o forma e, como tal, cada integrante de uma sociedade deverá ter a noção da importância da educação para o seu percurso de vida e para o desenvolvimento da própria sociedade. Aliar conhecimento a resiliência, ética de trabalho a confiança, inconformismo a capacidade de iniciativa, adaptabilidade a comprometimento, aumenta a capacidade de atingir objetivos e lutar contra as adversidades.
Nestes termos o desenvolvimento acaba por ser um esforço de equipa altamente dependente do desempenho individual e, em última instância, a mobilidade social depende muito deste último fator. No desporto encontro muitos pontos de contacto com esta ideia. Não se pode, em consciência, ambicionar a glória de terminar uma maratona, muito menos com um bom tempo final, se não se estiver preparado física e psicologicamente para o desafio. E mesmo durante a corrida até os mais bem preparados poderão desfalecer se não respeitarem os períodos de abastecimento. A fase preparatória de qualquer indivíduo para acesso ao mercado de trabalho, é altamente condicionante do seu percurso de vida. São vários os atributos que o caracterizam, que vão muito para além das competências técnicas, que determinam as possibilidades de ser bem-sucedido. Apoiada nesta visão 360, para além de formar futuros bons profissionais, a educação, sobretudo no ensino superior, deverá representar também uma oportunidade para desenvolver habilidades intrínsecas que tornem os indivíduos melhores cidadãos. Consciente de que as soft skills são cada vez mais valorizadas, acredito num modelo de ensino in School Business que alia as dimensões estratégica, tática e operacional na formação do aluno, estimulando o desenvolvimento de aspetos como a inteligência emocional, pensamento crítico e flexibilidade cognitiva. Como profissional do ensino superior é para mim muito importante que os alunos se sintam incentivados a sair da sua zona de conforto e a desafiar-se a si próprios. A evolução decorre também deste processo de aprendizagem.
Mas o caminho não termina com a conclusão desta etapa preparatória. Tal como um maratonista que não pode ignorar os períodos de abastecimento ao longo da corrida, é essencial manter um ritmo de formação contínua e de desenvolvimento permanente das soft skills, de forma a poder responder aos desafios da sociedade em contínua mudança e transformação. A mobilidade social é uma conquista permanente e o mérito de a alcançar decorre em larga medida desta perceção.