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"O turista do futuro" por Professora Doutora Catarina Nadais

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

Aventureiros, tecnológicos, responsáveis. Sedentos de cultura, de experiências, de inovação. Conhecedores, exigentes, sensíveis. O turista do futuro está projetado. Já o relatório apresentado pela Frost & Sullivan identificava seis perfis daqueles que em 2030 viajarão pelo mundo por motivos de lazer e turismo. Apesar de ser cada vez mais fácil a reserva de um voo ou de uma opção de alojamento, a compra de viagens organizadas por terceiros deverá manter-se como atividade desde que as empresas consigam apresentar produtos de valor sincero e transparente, condição para que o visitante lhe deposite a confiança na preparação da viagem, e que desta forma se concentre em exclusivo na oportunidade de se conhecer a si próprio a partir dela. A associação entre a viagem e a recompensa pelo trabalho desenvolvido sairá reforçada, buscando-se experiências luxuosas e atividades que promovam o desenvolvimento e o cuidado pessoal. Ser viajado e conhecedor do mundo será afirmado como uma qualidade pessoal e os digital media reforçarão o seu potencial de fonte de informação e de divulgação de conteúdos dos destinos, bem como veículo de partilha dessas experiências com o mundo. O viajante, mais do que conhecer culturas, partirá em busca de destinos onde possa imergir e vivenciar a cultura autêntica. As preocupações ambientais serão bússola na escolha e preparação da viagem, guiados por princípios de sustentabilidade ambiental, acautelando a pegada ecológica da viagem e os impactos nos destinos. Não deixarão obviamente de existir viagens motivadas por obrigações profissionais, familiares, religiosas ou festivas, mas mesmo essas vão ser aproveitadas para provocar ou reforçar relações pessoais. Dar resposta ao ímpeto que leva os indivíduos a viajar exige conhecer o que eles procuram nessa viagem, se a eles mesmos ou a outros, se ao inesperado ou o tradicional, e isso é reflexo de um percurso social e cultural que vai orientando novos trilhos no turismo. Na sociedade do trabalho do século XIX a atividade era signo de inovação e progresso, sucesso e desenvolvimento, reconhecimento e estatuto, meio de acesso ao consumo e de aquisição tanto de produtos de primeira necessidade como acessórios. Foi igualmente condição para o tempo de pausa, fuga à rotina, descanso e lazer e, contribuiu desta forma para a emergente valorização do tempo livre, do seu potencial criativo e expressivo, fazendo revelar e afirmar uma sociedade do lazer. Desde a década de 1960 que o lazer recuperou o seu valor social, de tempo privilegiado e de privilégios que contribui para a definição de novos estilos de vida, mais centrado no consumo da descoberta e do espaço-tempo contemplativo. Assim, as atividades de lazer, onde se inclui o turismo, são forma de compensação, constituem um tempo nutridor, de resposta às necessidades de cada viajante, sejam elas a pausa, o encontro, o descanso, o inusitado. O estilo de vida desenha-se a partir daquilo que é abundância ou carência, e a motivação para viajar também, e por isso, pensar o turista do futuro, bem como sobre o futuro do turismo e dos destinos exige conhecer as formas de viver, e o que em determinado momento representa um produto de valor e de investimento individual.