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A consciência da Economia Circular, por Professor Doutor José Oliveira

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica

Atualmente, a preocupação pela crescente procura da energia e das matérias-primas tem vindo a crescer acentuadamente, baseada no receio de que a procura supere os recursos existentes no planeta.

As consequências ambientais de um crescimento económico contínuo levam a debates académicos e políticos que exigem a transição para uma "economia sustentável" e uma mudança completa no paradigma de crescimento e desenvolvimento, assim como uma redução da intensidade de exploração dos recursos.

A economia linear é baseada num processo simples: extrair, produzir e consumir, com pouca atenção para a poluição gerada em cada etapa do processo, sendo primordialmente caraterizada pelos objetivos de índole económica, com menor atenção às questões ecológicas e sociais bem como à lealdade entre as intervenções políticas e públicas inerentes.

Um dos pontos importantes deste domínio do conhecimento da sociedade está ligado à sua génese. Habitualmente, a economia circular é maioritariamente conhecida por estar relacionada com a reciclagem. Na academia entende-se que a reciclagem pode ser uma das etapas do ciclo da economia circular. No geral, a economia circular refere-se ao modelo de produção e consumo que é fundamentalmente diferente do modelo de economia linear que tem vindo a dominar a sociedade.

Pode, portanto, considerar-se que a transição para uma economia circular não representa apenas ajustes destinados a reduzir os impactos negativos da economia linear. Pelo contrário, representa uma mudança sistémica que cria resiliência a longo prazo, gera oportunidades comerciais e económicas e proporciona benefícios ambientais e sociais.

O modelo de economia circular deve contemplar a eficiência dos recursos de forma a estender a vida útil do produto, isto é, atrasar o seu fim de uso. Possui a possibilidade de reciclar, reformar e reutilizar os produtos antes do seu fim de vida, ou seja, quando ele é analisado em materiais que são de propriedade de recursos.

A economia circular poderá excluir a propriedade do grupo de consumo e retorno. Como dependem do consumo de serviços e não dependem da extração de recursos virgens, excluem os laços que impedirão o descarte de bens consumidos. O consumo de recursos virgens é reduzido para otimizar o uso de subprodutos.
A reciclagem de resíduos de produtos descartados passa a ser uma fonte de recursos materiais, controlados para evitar a poluição gerada durante todo o processo. As combinações integradas de atividades industriais atuam de forma sinérgica e são geradas por uma outra.

Para a indústria e para a sociedade em geral, trazer novos processos para o mercado que permitam a circularidade dos bens é considerado um benefício para o meio ambiente e é, talvez, a oportunidade com maior potencial ambiental.

A concentração na redução do custo do ciclo de vida otimiza a eficiência do produto e promove o seu desenvolvimento. Isso facilitará a manutenção e a posterior reforma, do ponto de vista da sustentabilidade, tornando o custo comprovadamente valioso.

As práticas verdes e sustentáveis da gestão da cadeia de abastecimento surgem para integrar as preocupações ambientais nas organizações, reduzindo as consequências negativas não intencionais derivadas dos processos de produção e consumo.

Em Portugal, nos últimos anos, a economia circular tem vindo a receber cada vez mais atenção, associando as práticas da indústria e da sociedade às formas de superar o atual modelo de produção e consumo, e os impactos no fim da vida baseado no crescimento contínuo e no aumento do fluxo de recursos.

Contudo, pese embora toda a preocupação dos vários setores do mercado português e da sociedade, estes têm-se pautado por atividades pontuais. Podem testemunhar-se através de algumas conferências ou atos isolados ocasionalmente perpetrados por algumas associações relacionadas com o ambiente e a gestão de resíduos. Todavia, não tem havido iniciativas que coordenem o conhecimento e o hábito de atividades conjuntas e sustentadas em boas práticas que ocorrem já noutros países e que permitam a promoção continuada da economia circular como temática basilar da sociedade.

Ao promover a adoção de padrões de produção fechada dentro de um sistema económico, a economia circular visa aumentar a eficiência do uso de recursos, com especial incidência nos resíduos urbanos e industriais para alcançar um melhor equilíbrio e harmonia entre a economia e o meio ambiente da sociedade portuguesa.

Como podemos constatar, Portugal tem ainda um longo percurso a percorrer nesta matéria. Contudo, evidenciam-se já algumas vontades suportadas por indicadores, que, ainda que acanhados, preveem um novo e sustentável caminho a seguir.