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"Multilinguismo e multiculturalidade" por Professora Alegria Beltran

Artigo de Opinião publicado no semanário Vida Económica


O quotidiano está a internacionalizar-se. Atualmente, quer sejamos estudantes, professores, empresários ou profissionais do sector dos serviços, o contacto com diferentes línguas e nacionalidades é recorrente na maior parte das cidades.

A União Europeia incentiva esta convivência com a finalidade de obter retorno social e económico. A capacidade para atrair e fidelizar talento internacional está a tornar-se numa das prioridades das empresas mais modernas e melhor sucedidas a nível global visto que, como apontam estudos recentes no campo dos Recursos Humanos, a diversidade gera vantagens competitivas. Entre os indicadores relevantes para estes estudos estão o número de línguas faladas por tarefas e hierarquias, os respetivos níveis orais e escritos, a previsão das necessidades linguísticas num prazo de três a dez anos e a política corporativa de compensação da competência linguística. O multilinguismo e a adaptação à multiculturalidade são, portanto, competências chave no mundo dos negócios.

Segundo a Eurostat, 17,1% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos falam três ou mais línguas estrangeiras. Tendo em consideração o grande número de empregados do sector turístico (365.422, Pordata) e o perfil destes trabalhadores, cuja formação qualificada passa por aprender, pelo menos, três línguas, supomos que grande parte desta percentagem corresponderá a profissionais do sector. 17.1% é um valor muito alto quando comparado com as percentagens de países europeus como a Grécia (3.1%), a França (4.4%), a Espanha (6.3%) ou a Itália (8.6%), nossos concorrentes diretos em oferta turística.

Assim sendo, qual é a nossa posição relativamente aos países da União Europeia cujas percentagens são as mais elevadas?
Observamos que a Dinamarca tem 24.8% de cidadãos da mesma faixa etária que falam três ou mais línguas; a Bélgica, 27.1%; a Suíça, 34.8%; a Noruega, 48.5%; a Finlândia, 49.7% e o Luxemburgo, 59.6%, países em que a aposta no multilinguismo não está relacionada com o sector do Turismo mas com a multiculturalidade como valor de mercado.

Se anteriormente o inglês era a única língua imprescindível para os negócios, ficando o estudo de outras segundas línguas relegadas aos sectores dos serviços, da tradução e do secretariado, hoje, num mercado onde quase 40% dos jovens portugueses fala essa língua com um nível de excelência (12º num ranking de 100 países, EPI, Education First, 2019), o conhecimento de mais uma ou duas línguas poderá ser o fator diferenciador que destaque o talento dos nossos jovens para as novas empresas com visão de futuro. 

Como profissionais, somos cada vez mais o resultado das nossas escolhas formativas. O valor de mercado das línguas, assim como o seu valor cultural e emocional, justificam o investimento que nelas se faz e deve continuar a fazer-se por parte de indivíduos, empresas e instituições de ensino.